segunda-feira, julho 19, 2010

Revelações, Bariloche e Outras Insanidades

"Pessoal, isto é muito, muito sério." Meu editor gritava com a equipe, sem piedade. Eu, no entanto, estava furiosamente ignorando-o, pois quando seu editor grita com você, a melhor coisa a fazer é ignorá-lo: Ele fica impotente e irritado, que nem quando alguém castra um filhote. A diferença é que eu sinto pena de castrar filhotes, claro.
"Se nós não conseguirmos mais publicidade, nós vamos falir!" - Com essa frase, eu tive uma epifania. Uma realização que mudaria minha vida para sempre, e que eu nunca poderia voltar. Eu me levantei, assustando a todos na sala que acreditavam que eu estava em um coma alcoólico – Isto é, todos – e gritei com todos os meus pulmões minha epifania:
"Espere um minuto! Eu tenho dinheiro suficiente para fazer uma viagem!" E saí correndo do prédio, decidido. Dirigi furiosamente até o aeroporto mais próximo – Uns cinqüenta quilômetros, se não estou enganado – E comprei a primeira passagem que pude para Bariloche. Então eu esperei doze horas até o horário do meu vôo, porque comprar passagens de última hora não funciona que nem nos filmes.
Duas horas antes do vôo, eu fui fazer o Check-In. Entreguei a bagagem de roupas de emergência que sempre deixava no meu escritório – Ela continha cinco trajes de roupa para calor e frio, um frasco pequeno de viagra e um pacote de camisinhas. E também Jack Daniels, claro – E levei a bagagem de emergência que roubei do escritório do meu editor – Não sei o que de fato ele guardava na bagagem, mas não resisti à tentação de roubar alguma idiotice dele.

"Senhor..." O segurança do detector de metais chamou minha atenção depois que eu tentei atacá-lo com um guarda-chuva que eu achei não-sei-aonde quando ele tentou pegar minha mala de mão. Ele era surpreendentemente atencioso e gentil "Por favor, ponha sua bagagem de mão no Raio X e passe pelo detector de metais, antes que eu decida que você é um terrorista e resolva atirar na sua cabeça por 'Defesa Própria', ok?" Extremamente atencioso e gentil.
"Promete que não vai roubá-la?"
"Sim, eu prometo."
"E muito menos falar para meu editor que eu a roubei?"
"Si... Espera, o quê?"
"Nada, nada. Vamos ao detector."

Eu sei que muitos de vocês provavelmente já previram como vai acabar essa história, mas vocês todos estão errados. "Por que?", vocês perguntam? Porque a Sorte me ama. Ou amava até eu prometer que ligaria na manhã seguinte e nunca mais falei com ela. A Sorte é surpreendentemente vingativa.

Eu passei pelo detector de metais, sem um pingo de problemas. Já estava começando minha "Dança Metálica da Vitória" – Criada exclusivamente para o acaso de se passar por um detector de metais sem o mesmo apitar, ou para a improvável relação sexual com um andróide de Blade Runner... Ou qualquer andróide, pra falar a verdade –, que consistia em uma dança metade erótica e metade "Dança do Robô" e completamente inapropriada para qualquer lugar, quando o segurança voltou a chamar minha atenção.

"Senhor, poderia, por favor, abrir sua bagagem de mão?"
"Eh..." Eu hesitei. Eu não sabia o que estava na bagagem de mão do meu editor, mas eu conhecia o Sérgio (Ou Paulo. Ou Ramón. Ou Hans... Acho que começava com "X"): Deveria ter no mínimo, uma AK-47 para minha eventual insanidade estilo O Iluminado "Tudo bem." E abri a mala. Assim que eu vi o que havia dentro, eu lancei para tal conteúdo o mesmo olhar que lançaria para um ornitorrinco sodomizando um elefante, ou para algum livro de Stephenie Meyer: O de nojo horrorizado.

Provavelmente, vocês devem estar curiosos para o que tem dentro da mala. Mas eu respeito muito o Gustavo (Ou Caio, ou Xenu, ou...), e ele me respeita muito também. Eu nunca seria capaz de discreditá-lo neste texto, e muito menos interferir com sua privacidade ao divulgar o conteúdo da mala dele, então eu sinto muito, mas eu não vos direi o que havia na mala.

"Três garrafas de lubrificante..." O segurança vai fazer isso por mim "Um par de algemas..." Então ele suspirou, e completou a lista "E um frasco de viagra" Hey, desastres acontecem em qualquer lugar "Isso é algum tipo de piada, ou você realmente pretendia passar com... Isso por aqui?" Ele apontou para o frasco de viagra, estranhamente, então eu notei-o com mais atenção: Era alto, muito mais alto que eu, tinha um cabelo castanho: Um pouco como o meu, só que menos cinza, e seu sotaque alemão (Ou poderia ser australiano, sou péssimo com sotaques) o tornariam o garoto propaganda da "Raça Superior" (Ou da censura australiana).
"Como você justifica tudo isso?"
"Bem, é que..." Eu tentei inventar uma resposta inteligente, sofisticada, hilária e que me deixasse sair sem culpa "Meu amigo, ele..." E assim que falhei, tentei culpar outra pessoa.
"Ah!" Os olhos do segurança se acenderam como chamas. Ou, para ser menos clichê, como as calças do meu amigo que, depois de beber o máximo que achava humanamente possível, olhou para uma vela e me disse – Ou melhor, me berrou – "Ei! Tive uma idéia genial!"
"Entendi." Ele continuou "Entendi completamente... Vocês dois são... Um casal?"
"Mas hein?!" Eu tentei compreender o que diabos ele quis dizer com aquilo "O que diabos você quer dizer com isso?!"
"Você e..." Ele deu uma olhada para as algemas "Seu amigo."

Eu me deparei, horrorizado, com duas escolhas: Ou eu era "inspecionado" pelo segurança, ou eu fingia ter um "Amigo" que me inspecionava. Obviamente, eu fui com a segunda opção. Meia-hora – E um telefone com os dizeres "Me liga!" que eu nunca iria em minha vida discar – depois, eu estava no meu assento, indo para Bariloche.

Em Bariloche, eu passei quinze segundos aproveitando o frio, oito aproveitando a neve, doze tendo a idéia de manchar a neve com meus fluidos corporais, um minuto manchando a neve com meus fluidos corporais, doze minutos sendo perseguido pela polícia de Bariloche por exposição em público, três dias na cadeia e quatro esperando para ser deportado de volta para o Brasil.

Dou para Bariloche três estrelas de dez.


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Um comentário:

Abre teu coração e chora!