Eu acordei. Estava escuro. Ao fundo, alguns sons se faziam ouvir. Eu abri os olhos. Ainda estava escuro. Eu levantei uma mão. Não estava amarrado. Ok, então eu já estava parcialmente bem. Tentei levantar uma perna. Não consegui. Estava sentado, com as pernas presas. Provavelmente era refém de algum vilão do mal, ou robô. Ou, se minha sorte estivesse se sentindo alegre (Leia-se: Dopada), uma mulher sem muitos escrúpulos e que iria me manter refém para chantagear meu jornal, e dividir o lucro comigo.
Então uma luz se acendeu, destruindo tanto minha fantasia da mulher chantageadora quanto minha ilusão de não estar de ressaca. Eu xinguei alto, conforme esfregava meus olhos com desdém. Olhei para o que estava prendendo minhas pernas: Minha mesa.
"Bom dia" Era o Sérgio, meu editor. O que diabos ele estava fazendo na minha casa/calabouço aonde eu estava aprisionado?
"Não grite. O que diabos você está fazendo na minha casa? Ou neste calabouço?"
"Bem, você está metade certo. Você está no seu escritório. Passou a noite aqui."
"Ah. Eu estava acompanhado?"
"Sim, claro. Por três super-modelos e a Scarlett Johansson" Ele sempre sabia quando mentir para me agradar.
"Faz sentido." Mas eu nunca iria deixar ele ficar feliz em me agradar. Que tipo de amizade seria essa? "Me passe meus óculos, por favor."
"Aqui." Ele me passou meus óculos, daonde faltava uma lente. Maravilha. De qualquer forma, os coloquei, fingindo não perceber a lente faltando. "Sabe, os jornalistas estão começando a achar que você tem glaucoma."
"E por quê eles achariam isso?"
"Por causa de... Você sabe, quase sempre estar de óculos."
"Ah. Bem, melhor do que acharem que sou alcoólatra." Eu tinha um acordo com Sérgio: Se ele me chamasse de alcoólatra, seria jogado aos tubarões convenientemente colocados no piscinão de ramos (Uma pessoa faltando, duas... Quem iria notar? De fato, eu sinto pena é dos tubarões) "Me passe um café, vai."
"Aqui, com muito açúcar"
"Obrigado, secretária."
"Cale a boca." Eu tomei um gole do café. Precisava de mais açúcar, e estava quente demais. Murmurei uma coisa sobre açúcar, e coloquei-o no Lucas, minha mesa (Devido a cortes no orçamento, fomos obrigados a promover nossos estagiários para mobília). Ele tremeu um pouco com o calor, mas depois se manteve firme.
"Então, o que te traz até mim nesta adorável Quinta-Feira de tarde?" Eu sorri da maneira mais falsa que pude.
"É Terça-Feira, são nove da manhã, e você ainda não me entregou sua crônica para amanhã." Merda. Eu tinha esquecido completamente dela.
"Merda! Steve, seu computador inútil!" Eu dei um tapa na cabeça de Steve, o estagiário que era meu computador na hora de escrever. Ainda bem que não era Júlya, a estagiária que era meu computador na hora de ver pornografia. Eu já posso ser preso por muitas coisas, mas preferiria que "Espancador de mulheres" não estivesse na lista. "Está demitido!" Os olhos dele se encheram de esperança.
"Jura?!"
"... Não." A esperança dele foi completamente destruída, como sempre. "Agora vá me trazer mais açúcar, e, depois disso, se espanque no corredor."
"Victor, é sério. Você precisa me entregar a crônica até hoje de tarde."
"Hey, chefe" Sempre que eu estava prestes a fazê-lo levar a mão à face, eu chamava-o de chefe. Ele já havia preparado sua mão "Se importa se eu fizer uma crônica erótica?" E bam! Ele levou a mão à face.
"Óbvio que eu me importo. Você não pode fazer uma crônica de sexo."
"Isso é algum tipo de censura?!" Me levantei da Cyrlene, que caiu no chão, exausta, e fitei meu chefe.
"Victor, você sabe que não pode fazer nada explicitamente sexual. Você já vem forçando a barra ultimamente. Relaxe um pouco. Escreva sobre... Gaivotas." Eu gostei da idéia.
"Gaivotas? Parece uma boa idéia."
"Viu? Não é tão difícil."
"Uma orgia de gaivotas no meio do oceano Pacífico... Ou Atlântico? Em qual oceano têm gaivotas? Espera, gaivota é um peixe, certo?"
"Biancardine..."
"Você está me censurando!" Eu gritei, trazendo a atenção de todos os jornalistas, colunistas, estagiários, mendigos que alugavam nossos estagiários como camas (Exceto pelo mendigo-colunista Sandro, que estava dormindo profundamente sobre Fábio)
"Hey, hey. Não estou te censurando. Apenas te pedindo para ser razoável."
"Não, Sérgio. Essa foi a última gota. Agora é pessoal. Agora é uma questão de honra! De liberdade de expressão! De pornografia jornalística! Você e eu, um duelo. Aqui, agora."
"Você deve estar brincando"
Não houve resposta. Eu fiz a cara mais assustadora que podia, enquanto fitava-o furiosamente. Ao fundo, um grupo de estagiários levemente afinados entoavam The Trio de Ennio Morricone (Cortes no orçamento nos obrigaram a vender nosso sistema de som 5.1, junto com alguns CD's do Fabiano. A maioria eram álbuns repetidos do Justin Bieber, então não houveram muitos protestos - Exceto do próprio Fabiano, claro) Em um momento de tensão semi-nula, Sérgio e eu nos encaramos. Eu me preparando para atacá-lo com Caio, o ex-segurança que resolveu fazer jornalismo, e ele pensando se o seguro dele cobria ataques de colegas de trabalho claramente insanos insanos.
Por fim, ele riu, e eu atirei o Caio em cima dele (Leia-se: Ameacei Caio com uma ordem de demissão e obriguei-o a se jogar em cima do Sérgio). Ele desviou completamente do destrambelhado, e balançou a cabeça, obviamente reprovando meus métodos de tratamento com estagiários.
"Ok, dane-se. Faça sua crônica erótica. Eu vou editar todo o conteúdo pornográfico fora de qualquer forma."
"Isso!" Eu comemorei. O grupo de estagiários encarregados de cantarem então começaram a entoar Don't Stop Believing, que era a música errada (A correta seria Eye of the Tiger). Eles seriam demitidos por tal incompetência. Ou então obrigados a cantar Lady GaGa em frente à casa do Sérgio durante uma noite inteira, ainda não me decidi. "Obrigado, Sérgio! Você não vai se arrepender!"
"Não vou?" Ele pareceu confuso.
"Er... Ok, você vai. Muito. Mas ainda assim, vai ser divertido!" Ele me olhou, sem esperanças. Não iria ser divertido. Por fim, ele saiu, me deixando a sós com minha possível genialidade. Eu tinha a chance de escrever a crônica erótica do século!
Sentei-me na minha nova cadeira, Karen (Quem foi que disse que sou cruel com estagiários?) E chamei ambos meus computadores. Então minha mente ficou em branco. Toda aquela inspiração possivelmente pornográfica havia sumido. Nem mesmo com o auxílio de Júlya a situação melhorou. Mas, por final, sendo o homem calmo e sensato que sou, eu escrevi uma crônica (Esta, e só depois de ter gritado tanto com meu computador que ele começou a chorar). Semana que vêm, quem sabe, eu não escrevo a crônica erótica? (Nota do editor: "Não, não vai." Já disse que meu editor é um tirano que censura a verdadeira arte?) De qualquer forma, espero que tenham apreciado esta crônica. E, se algum de vocês for do departamento de direitos humanos e tiver ficado chocado com meus métodos de treinar estagiários... Bem, terão que passar pelo meu castelo construído com carteiros antes.
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