Entrei num bar. Era um bar qualquer, que tinha o cheiro que todo bar deveria ter: Vômito. Sentei no balcão. O cheiro fétido faria qualquer cérebro alarmar seu dono que ele deveria “Dar no pé”, mas, felizmente, essa habilidade já estava suprimida no meu.
Ao meu lado – Que, devido ao cheiro, fui obrigado a olhar, tentando tirar minha mente já não tão funcional dele –, estava uma mulher que, eu aprendi, não queria conversar, e um homem de cabelos “Seda”, e roupas da marca “Ecko”, que me fizeram olhá-lo com certo desdém.
- Ei, a bebida daqui é boa? – Meu cérebro inebriado achou que seria uma boa idéia bater um pouco de papo com alguém mais receptivo. O homem me olhou de cima a baixo, e, com um certo desprezo, retrucou.
- Isso depende. Se você pagar pouco, não.
- Tudo bem, então. Eu irei beber um chope. Garçom, me vê um chope, e com colarinho, hein. – Me senti como em um comercial besta da Brahma.
- Então – Eu me voltei para encher o desprezador ser ao meu lado. – Roupas de marca... Devem ter sido caras.
- É... – Ele parecia assustado – Por favor, só não me machuca.
- Como?
- Leve o que quiser, só não me machuca.
- Não vou te roubar, cara. Só estava batendo papo. Sabe, conversa.
- Ah... Então que diabos você quer?
- Não faço idéia. Só achei uma boa idéia tentar conversar.
- Por quê?
- Não faço idéia.
- Ah.
- Enfim, por que você está bem vestido num bar que cheira a vômito?
- É sempre bom se vestir bem, e eu levei um fora.
- Ah. Foi mal. Isso passa.
- Passa?
- Eu sei lá. Dizem que sim. Eu nunca vi passar.
- Continuamos falando do mesmo assunto?
- Provavelmente – Ele me olhou com cara de desentendido. Achou que eu estava bêbado, claro.
- Tá, deixa eu beber em paz. Você é meio estranho.
- Eu sou estranho? Você que tá com seu cabelinho Seda.
- Bem, eu – Ele parou. Ecoou um som de “Beep” no bar, e ele rapidamente pegou o celular. Nokia, “N95”. Tinha que ser. Deu uma risada, e digitou algo. Depois guardou o telefone.
- “Bem, eu” o quê?
- Como?
- Você ia dizer alguma coisa – Franzi a testa. Não dá para se manter uma conversa – Por mais fajuta que seja – assim. Precisava de pelo menos um pouco de consistência.
- Ah. Claro. Eu ia dizer que meu cabelo não é Seda, é L’oréal.
- E isso lá faz diferença?
- Claro que faz! Seda é para cabelos mais longos, enquanto L’oréal é para cabelos curtos.
- Uau, esse é exatamente o tipo de conversa que eu geralmente tenho com uma mulher – Comecei a ficar irritado.
- O que você quer dizer com isso?
- Nada. E quanto às roupas?
- São da Ecko. Importadas. É muito importante se vestir de acordo, pois afinal, a marca é o que representa sua personalidade, afinal, você não vive se for um barbudo sem cuidados... Que nem você.
- Sabe do que mais, eu mudei de idéia. Me passa o relógio, isso é um assalto.
Minha primeira - E única - crônica a ser publicada num jornal. Tenho o relógio dele até hoje.
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