Delirium Tremens - Apenas uma crônica junkie

         
Eu estava ali, simplesmente. Não sei como cheguei e não sei se isso acrescenta algo. Mas estava ali, naquele porão, preso a uma estrutura metálica qualquer. Pelas mãos, pra cima, e nos pés, embaixo, com poucas chances de movimento..
          Sentia a testa amarrada a algo metálico atrás da minha cabeça e a bunda encostando em alguma superfície gelada, o que supunha que eu estivesse nu.  Ao redor, paredes velhas com palavras aleatórias escritas em merda e sangue, nada que compusesse uma frase. Claro, não estava sozinho.
         Visualizo de imediato tres sadistas tailandesas, que na verdade seriam duas, pois um par delas eram gêmeas siamesas unidas do ombro á virilha,algo como uma mulher com duas cabeças e um pouco mais larga que o convencional. Tinha um cara, mais além, também sadista com uma máscara de soldador, alto e gordo que só grunhia enquanto manipulava alguma coisa em cima de uma bancada de madeira sebenta.As gêmeas se aproximam de mim , uma encara a outra e pergunta:
     _Fassbinder?-no que a outra responde:
     _Não, pouco outsider pra tanto.Talvez Puccini...
E o cara com a máscara grita de lá;
     _Bukowski, porra!!!

       Elas se afastam visivelmente contrariadas. E é então que se aproxima um anão, também sadista porém com uma  máscara latex de palhaço, e diz::
     _Vou te comer, seu merda!
Eu já sem saber o que é melhor ou pior em tal situação, pensei: Que seja! E ele se gruda na minha canela mordendo e sugando, situação incomoda pra cacete mesmo, me dei conta que ele não arrancava pedaços, apenas chupava, então perguntei:
     _Vai comer ou vai chupar??
Ele respondeu que estava de dieta mas adorava sentir o gosto. Relaxei um pouco, mas não muito, meio que conformado com uma situação tão insólita quanto funk ser expressão cultural. As gêmeas discutiam ainda com o grandão, que de repente deu um urro, ao qual a terceira mas não esquecida sadista pergunta o que há, ele reponde:
     _Amanhã é o ultimo dia de declaração de isento via internet!!! -e some da minha vista, reaparecendo em seguida de terno e gravata  e sai por uma porta berrando ao celular. Cara responsável, pensei, primeiro as obrigações, depois o prazer! A sadista solo se aproxima de mim com uma garrafa de qualquer coisa de cor escura e encosta na minha boca , me fazendo beber.

       Era Rum, ou conhaque, ou qualquer coisa tão forte quanto.Eu estava com muita sede e precisando ficar doidão, mas detesto bebida destilada, prefiro uma boa cerveja balanceada com medicina colombiana de posologia nasal, me dá a vibe que eu gosto. Mas um tanto desceu goela abaixo, e fiz aquela cara de bebum arrependido que vai pecar de novo, deu mais um mal estar e apaguei....Acordei na minha casa, na minha cama, dia claro, sentei na beirada, pensei, analisei, não saquei nada, minha canela estava inteira. Fui até a farmacinha, onde estava o prato com sucrilhos colombianos, e dei um soco na borda, onde vi 200 gramas de felicidade subindo ao ar e descendo como neve...Fiquei olhando a queda da caspa del diablo e  pensando na minha vida...Então juntei tudo do chão e executei.